Liberais Vermelhos

Somos liberais. E somos vermelhos. Ainda vai discutir?

segunda-feira, agosto 21, 2006

A “Democracia” Hipermoderna

Depois de assistir uma discussão numa lista sobre regimes totalitários e democráticos, sem ter dito nada, tentarei mostrar algumas opiniões sobre os sistemas governamentais de estados nacionais. Primeiramente temos que pensar o que significa a democracia, na forma que o termo é usado hoje em dia. Evidentemente não podemos comparar o significado do conceito com o empregado na antiguidade. Fica difícil até mesmo crer que seja possível utilizá-lo para definir os sistemas políticos hipermodernos. Apenas serve como instrumento fortemente ideológico, que poderia ser substituído por termos como: governos representativos. O que implicaria ideologicamente na mudança do pensamento da representatividade legitimar a vontade da maioria da população nas políticas governamentais. Reforçar a idéia do sufrágio universal foi um argumento forte das revoluções burguesas que tentavam acabar com o Antigo Regime, mas fica difícil aplicar a mesma idéia para uma nação latino-americana com pouca experiência com este tipo de governo como o Brasil. Um outro ponto se refere ao fato de ser quase indissociável um governo democrático de algum controle dos votos e/ou da necessidade de aliados por parte das frentes eleitas para conseguirem manter seus governos. Estes, entre outros fatores, levam geralmente a corrupção dos políticos (tem que saber roubar pra fazer política), desacreditando mais ainda a democracia representativa (na América Latina o descrédito destas instituições é evidente). E nós conseguimos ver isso acontecer na maior potência econômica mundial, onde mesmo vencendo uma eleição o candidato não sobe ao poder, ou em paises sul-americanos com economias emergentes. Defender um sistema, tanto liberal quanto socialista, com base nesse tipo liberdade eleitoral é geralmente defender a corrupção e o controle dos votos. Não imagino que uma nação ao fazer uma revolução socialista escolhendo o regime democrático, consiga manter-se sem controlar os votos e corromper seus eleitos. O mesmo pode-se aplicar aos paises liberais que escolhem a democracia representativa, como se vê na maior parte das nações do mundo. Só peço que não façam deduções mecânicas achando que ao criticar a democracia eu prefira um regime autoritário, eu quero pensar em outras soluções possíveis para os regimes (e como minha ideologia manda, para os regimes de caráter socialista). Saindo desse assunto, já bastante batido, para tocar em outro ponto da discussão da lista. Este não tanto político, mas mesmo assim político de alguma forma. Alguém disse a certa altura da discussão que não concordava que se possa matar por um bem maior. Parece que não conseguem notar que as mudanças fundamentais da humanidade passaram por massacres que visavam um bem maior, ou será que nós vivemos num mundo liberal-burguês sem ter ocorrido nenhum derramamento de sangue? A Revolução Francesa é um exemplo grandioso de mortes por um bem maior. Podemos citar exemplos como o Fascismo, as ditaduras latino-americanas etc. Que foram claramente atos em nome de um bem maior, mesmo que depois nós admitamos que este bem maior não era tão bom assim. Fato é que provavelmente o mundo liberal-burguês só acabara com banho de sangue. Torna-se bastante falacioso acreditar numa reforma dentro do sistema, ainda mais num sistema democrático representativo sem nenhuma credibilidade. Finalmente temos que pensar, para o futuro da política mundial, em formas alternativas de governos, em outras formas de regimes diferentes das atuais e colocá-las em prática, pois parece não ter muito tempo de vida a democracia representativa. O vazio no governo é um convite a regimes mais duros, os que querem tanto o fim das ditaduras deveriam se preocupar em pensar e praticar as alternativas ao modelo atual e não discutir os malefícios dos governos ditatoriais, que não precisam tomar tanto de nossa atenção. Temos é que olhar a ditadura que nós não percebemos e deixar de acreditar na falácia democrática da modernidade.

sábado, agosto 12, 2006

Sem Título I

Nesse momento pós-copa, em que as eleições são assunto principal da sociedade brasileira, veio-me um pensamento, uma dúvida. Eu me pergunto:por que as pessoas são obrigadas a votar? Enquanto se discuti a validade do regime democrático junto ao estado nacional, ainda temos que ser obrigados a votar. Além disso, a eleição parece já estar ganha desde o momento que Lula disse que seria candidato a reeleição. O espetáculo da democracia cada dia perde mais o seu sentido, perde sua credibilidade, ainda assim milhões de pessoas são desnecessariamente obrigadas a votar. Eu sei que minhas lamurias não surtirão qualquer efeito, mas perto das eleições esta questões me abatem. E eu só penso:eu tenho que fazer campanha para anulação dos votos. É o único gesto que posso fazer por enquanto a respeito. A entrevista da Heloísa Helena no Jornal Nacional foi um insulto a inteligência dos eleitores, questões ridículas, quem viu o Roda Viva com a candidata, não pode acreditar que o jornal da emissora Globo, seja no mínimo respeitável. Um primeiro ponto que queria salientar do texto do João era sobre o regime socialista. Usar retórica pra falar que ouve um regime socialista e não mostrar um conteúdo histórico sobre o assunto, parece mostrar apenas disputa de ideologia (mas é isso mesmo que o pensamento humano deve fazer) sem um pouco de requinte um pouco mais apurado. Que não deveria faltar ao meu colega, como a senadora do PSOL. Esta disse que não houve nenhum regime socialista de fato e como ela provou? Ela não provou. João disse que os regimes, as experiências não acontecem como seus arquitetos idealizam. Mas a experiência socialista russa (chinesa, coreana, cubana, etc.) realmente foi uma experiência socialista que não tinha nada em comum com as teses de Marx ou realmente não foi inspirada em nada no pensamento do filosofo alemão? Se a experiência russa foi uma experiência socialista imperfeita em relação ao pensamento marxista, em que medida isto se deu? O discurso de Heloisa Helena e o texto do João apontam apenas desejos ideológicos válidos, mas sem a explicação um pouco mais refinada da ciência histórica. A discussão retórica desses fatos é interessante, mas discutir um fato histórico (a experiência prática do socialismo) sem referência aos acontecimentos empobrece o debate. A retórica do João na minha opinião está mais próxima de uma conceituação real do fato, mas como estudante de história não poderia faltar uma estruturação mais profunda do debate. Ele articulou bem seu pensamento mostrando como idealmente as experiências nem sempre acontecem com fora escrito. Mas mesmo assim não conseguiu um discurso que possa realmente provar a existência de um regime socialista.Sua evidencia teórica está claramente “carapaça vazia, destituída de sentido e sem eficácia prática”, onde está a práxis da sua elaboração teórica, na sua afirmativa. Quando ele formula a forma mais chique do ditado do Zé, ele o faz de uma forma duvidosa. Primeiro, porque ele faz uma dupla negação, uma tradução poderia ser: A elaboração teórica não pode não ter necessidade da práxis social. Foi isso mesmo que você quis dizer? Segundo, ele usa o conceito de práxis a priori com o sentido simples de prática social, o que para Marx seria o conjunto do que ele acabara de conceituar ou seja a práxis seria assim: A elaboração teórica que não pode prescindir da prática social. Ademais, crianças não abusem exageradamente da epistemologia, cuidado com o uso deliberado dos conceitos e votem nulo em outubro. Hahahahaha!!!!

quarta-feira, agosto 09, 2006

E a entrevista da Helô Helena?

A entrevista de Heloísa Helena ao Jornal Nacional foi uma preciosidade. Esperta, a senadora esquivou-se vasilinicamente das investidas dos entrevistadores. Poucas perguntas, dentro do já minguado universo de questões abordadas (conseqüência da "matraca" da senadora), referiram-se à proposta de governo e/ou do partido. A maioria referiu-se a questões ideológicas e de posicionamento político. Como se quisessem arrancar uma confissão de uma suposta apologia de Helô à bandidagem (como na pergunta sobre a criminosa depredação do MSLT), ou uma confissão de uma suposta adoração pela ditadura de Fidel , ou por outro regime comunista qualquer (pergunta sobre o modelo de país a ser seguido pelo Brasil), apenas para citar dois exemplos, os entrevistadores não pouparam a senadora de suas investidas. Por fim, sorrateiramente, Heloísa conduziu as perguntas de modo a deixar espaço a algumas de suas propostas, ainda que tenha se ocupado demasiadamente em passar imagem de mãe do povo brasileiro ("mãe do povo", "pai dos pobres"... Quero nem ver quando surgir o cunhado...).
Um trecho da entrevista chamou minha atenção. No momento em que discutem o caráter socialista da formação da senadora, que declara ser socialista por convicção, Heloísa diz que nunca houve um país socialista na Terra. Ela não está errada, evidentemente. Jamais houve um país socialista à Marx, como jamais houve um país liberal à Smith e jamais houve um país Católico à Jesus. Experiências históricas jamais seguem à risca as teorias de seus elaboradores, por três razões que, longe de serem as únicas, são as mais importantes ao meu ver:
1) Teorias são elaboradas em um determinado período, em uma determinada realidade histórica que está em constante mudança. Tentativas de implantação de teorias posteriores à formulação das mesmas tendem a encontrar uma outra realidade histórica, portanto fora dos quadros em que o modelo originalmente foi concebido;
2) Toda teoria é elaborada por humanos, que são limitados por natureza. Teóricos, não importa o quão inteligente sejam, têm sempre uma visão limitada, parcial da natureza e da sociedade. Desse modo, concebem teorias que pretendem ser abrangentes, globais, totalizantes, porém o fazem de uma perspectiva muito restrita, pequena, microscópica. Os fatores negligenciados na teoria (e sempre há fatores negligenciados) agem como um limite prático da teoria;
3) Não dá pra saber se uma teoria é eficaz sem pô-la em funcionamento. E essa posição é sempre inédita, uma vez que toda experiência histórica é única. Desse modo, não é difícil que surjam imprevistos limitantes do alcance da teoria. Não há sociedades mecânicas, que obedecem com respostas esperadas aos estímulos que provocamos. O que existe é um vasto campo de probabilidades que não esgota a realidade, mas se mantém fluído nela.
Dito isso, volto à questão levantada pela senadora do PSoL. Nunca houve e nunca poderá haver uma experiência socialista à risca, que obedeça tintin por tintin à teoria (se não a teoria marxista, que seja outra. Muitos liberais incorrem no comum erro de pensar que socialismo e marxismo são sinônimos). Simplesmente porque, já diz o velho Zé, "em teoria é uma coisa, na prática é outra". Ou, para falar de modo mais chique, a elaboração teórica não pode prescindir da experiência da práxis social, sob risco de tornar-se carapaça vazia, destituída de sentido e sem eficácia prática.
Muitos pretensos liberais adotam postura semelhante à minha, mas deixam-na exclusiva para o socialismo, sem perceber que o liberalismo, tal como o pretendem seus teóricos, jamais será possível à risca. Isso talvez seja ingenuidade ou hipocrisia. É um argumento válido e bastante bom para criticar os socialistas, começar a apontar os milhões de mortos pelos regimes comunistas, coisa e tal. Mas, como exercício intelectual, não chega muito longe. Não é porque as grandes experiências socialistas descabaram para o totalitarismo, culto à personalidade, restrição da liberdade e perseguição política, dentre outras críticas, não é por isso que uma experiência socialista futura (se vier a ocorrer) necessariamente descambará para o mesmo lado. Pode dar certo, pode não dar. Pode ser justa, pode não ser. Do mesmo modo, não é porque o capitalismo gera desigualdades sociais, concentra o banquete na barriga de uns e mata de fome a maioria, promete um mundo livre e de consumismo a todos enquanto só atende a alguns, não é por isso que o capitalismo não pode transformar-se e vir a ser um sistema menos injusto. Não totalmente igualitário, mas que não mate tantos sem que tenham oportunidade de brilhar. Não que dê caviar a todos, mas que não deixe faltar o pão.
A história não permite certezas absolutas nem previsões concretas. O que há são possibilidades, e dentro desse emaranhado de chances é que movemos nossas peças, nossas convicções, nossas ideologias. Sem a percepção dessa teia, desse campo, o que restará é um dogmatismo, é o "refutar por refutar", a birra, a manha, o choro. Sem uma percepção crítica, o que resta é a fé. E com fé a gente não discute. A gente diz "amém".

sexta-feira, agosto 04, 2006

Assassinatos expressos no Oriente

Capa do "The Independent". Peguei no Orkut.
Guerra é assunto complicado. Quando acontece perto da gente, a tendência é assumir postura em um dos lados (ou fugir pra longe, lógico). Quando estoura lá onde Judas perdeu as botas (e quebrou o pescoço), a tendência é ficar num dos lados em que já estávamos antes do conflito. Dessa maneira, Israel já é vilão pros que acusam sua supremacia na região e suas atitudes para com palestinos, do mesmo modo como já é herói pros que a associam ao último pilar da “civilização-judaica-cristã” naquelas bandas. Para os primeiros, os que se opõem a esse maniqueísmo são baba-ovo de Washington e da “doutrina Bush”, filhotes do neoliberalismo e ainda mijam na cama. Para os segundos, os opositores são anti-semitas, neonazistas, comunistas safados e um monte de outras coisas que eles acham parecido com isso.
A questão é que considero muito difícil tomar partido total de um dos lados em conflitos desse tipo. Que o Oriente Médio é um barril de pólvora, todos sabem desde o pré-vestibular. Que muita gente naquele canto detesta Israel, todo mundo ta careca de saber. Qual a novidade, então?
Israel não é coitadinho. O Holocausto parece ter encravado uma imagem em muita gente, um desses preconceitos “à brasileira”: criticar Israel passa ser criticar os judeus, assim como criticar as cotas é associado a uma postura racista. Ora, nem um, nem outro. Israel foi atacado em sua soberania, é certo. Tem um monte de abutres loucos pra morder sua carniça, é certo. Não pode vacilar. A resposta a um ataque militar, ou mesmo a seqüestro de soldados, não poderia ser diferente. Ao contrário do que muitos pacifistas ingênuos pregam, as coisas nem sempre se resolvem na conversa. Muitas vezes um acordo diplomático apenas posterga um conflito inevitável. Muitas palmas são desperdiçadas para apertos de mão que de amigáveis só têm a propaganda. Nesse sentido, apesar de não concordar nunca com a violência (sou um desses pacifistas ingênuos), não vejo surpresa na reação de Israel, nem consigo argumentar fortemente contra sua decisão.
Por outro lado, não estamos diante de uma guerra comum. Não se trata de soldados cruzando fronteiras, trucidando-se à vontade na linha de frente. Trata-se, aqui, de guerra de sufoco. Busca-se encurralar o governo adversário atacando o que ele tem de mais precioso – a opinião pública, incorporada nas vítimas civis. A condenação mundial em massa, a condenação da imprensa em massa, concentra-se sobre Israel simplesmente porque seu poderio é indiscutivelmente maior do que o do adversário. Mas o foco não é Israel, o foco são civis mortos diariamente em ataques cirúrgicos, concentrados, precisos para quebrar o mais rapidamente possível o elo fraco da corrente.
Esse tipo de conflito é covarde, certamente. Uma intervenção mundial no sentido de apaziguar o conflito não me parece garantia de paz. Uma tomada de posição dos EUA junto a Israel me parece suficiente para garantir tranqüilidade a este último para manter sua investida até a rendição do adversário. Essa guerra de sufoco, longe de ser apenas retaliação contra uma soberania atacada, é um aviso aos que estão por perto: “não se aproximem, não pensaremos duas vezes antes de revidar”. Dadas as condições de Israel e a inimizade que seus vizinhos nutrem, quem pode condenar tal postura? Porém, dada a crueldade de uma guerra desse tipo, atingindo quem pouco tem a ver diretamente com o conflito, quem pode concordar com tal postura?
Uma corrente de ódio só quebra quando alguém resolve partir, muitas vezes em sacrifício próprio. Não é de surpreender, nem de xingar, que cada um queira manter seu elo o mais firme possível.