Liberais Vermelhos

Somos liberais. E somos vermelhos. Ainda vai discutir?

sábado, março 31, 2007

Aforsma anti-aforismático (...ou como criticar um filósofo mais pop do que Franz Ferdinand)

"Tão tolos quanto aqueles que se perdem no pragmatismo eloqüente e despropositado são aqueles que pensam ser a verdade intrínseca às coisas, idem ao princípio moral, crendo assim que em um curto aforisma possa-se encontrar uma idéia de grande relevância." As aspas me deixaram com um ar importante, não? E sim, o bigode é legal, mas é um completo idiota.

quarta-feira, março 07, 2007

À Procura da Felicidade

Fui ver o filme "À procura da felicidade", com Will Smith. De cara já adianto que é excelente. Maravilhoso. Tocante. Tem uma mensagem profunda que exalta a capacidade de um homem obstinado tomar as rédeas de sua própria vida, levar adiante seus próprios sonhos, superar as dificuldades e, ainda, criar e educar sozinho seu único filho.
O filme é também um prato cheio para liberais e um golpe nos estatiofílicos. Prato cheio porque Chris Gardner, personagem real interpretado por Will Smith, é um self made man à antiga. Saiu do nada e chegou no tudo. Sozinho. Dirão os liberais: o governo, quando aparece no filme, é pra cobrar impostos atrasados e dizimar a já abalada poupança de Gardner, acumulada com muito suor. Chris trabalha pra si próprio - investiu suas economias em máquinas de scanner para médicos que revelam-se verdadeiros elefantes brancos - , mas sua persistência o leva a vendê-las por completo. É quando surge a mordida do leão...
O filme é um golpe nos anti-liberais porque Chris limpa, também sozinho, a sujeira que insistem em lhe colocar sobre os ombros. Passa por mil apertos, mas não deixa de lado seu sonho de melhorar de vida. Mesmo quando tem que dormir no banheiro do metrô junto com o filho ou nos albergues municipais repletos de mendigos. Mesmo quando mal tem dinheiro pra se alimentar ou é preso devido a multas de trânsito. Estuda pesadamente na tentativa de um estágio, não remunerado, que lhe possibilitaria uma melhora de vida. Possibilitaria porque... Bem, vá ver o filme.
Mas o filme pode pregar uma peça nos liberais, como parece ter prego em Rodrigo Constantino. Em texto no seu blog (http://rodrigoconstantino.blogspot.com/2007/02/procura-da-felicidade.html), Constantino diz: "Fora isso, o filme desmonta a crença do Estado paternalista, que irá cuidar dos pobres. Pelo contrário, o governo aparece para tirar na marra e sem aviso o dinheiro que Gardner conseguiu juntar com a venda de scanners para médicos, alegando impostos atrasados. (...) Esse é um retrato da realidade. O governo, para dar algo, antes precisa tirar, e normalmente o fardo recai sobre os mais pobres.".
Um puro liberal talvez desse razão a Rodrigo Costantino. Como eu disse anteriormente, o governo apareceria como confiscador de poupanças. Mas, considerando novamente tratar-se de uma peça pregada, e não de falácia assumida, sou obrigado a discordar de Constantino. Gardner, quando na miséria, refugiou-se em abrigos municipais, como eu disse. Abrigos públicos. DO GOVERNO.
Ora, é este o governo que defendo aqui. Um governo que taxe os mais ricos (não os ferrados, como Gardner) e utilize esse dinheiro para construir mecanismos pelos quais os indivíduos podem, sozinhos, buscar sua felicidade. O governo não deve impor felicidade aos outros, pois desse modo tratará os cidadãos sempre como ovelhas. O governo tampouco deve inexistir, ou existir minimamente. O governo deve ser simplesmente um neutro meio de se alcançar a felicidade. O governo deve existir como nos abrigos que Chris Gardner aproveitou, e sem os quais não conseguiria ir mais longe com seu filho.
Em suma, os homens vivem sozinhos, mas não sobrevivem sozinhos. Apenas um tipo de pessoa poderia ignorar os abrigos municipais: aquele que não sabe o que é passar fome.