Liberais Vermelhos

Somos liberais. E somos vermelhos. Ainda vai discutir?

quinta-feira, setembro 28, 2006

A modernidade ainda existe?!??!?!

Depois do mundo ter conhecido o poder destrutivo do homem na segunda guerra mundial, o pensamento ocidental começou a ser rodeado de uma visão apocalíptica do futuro da humanidade. Autores começaram a especular sobre o fim da história (o livro do Fukuyama é uma grande referência sobre o assunto). Surgiam as teorias pós-modernas, que foi aderida por intelectuais e artistas. A teoria evoca o fim da modernidade, afirma-se a superação das contradições não tão evidentes do mundo burguês-capitalista. Porém, o cotidiano da primeira década do século XXI aponta mais para um acirramento das contradições modernas. Nossa sociedade ainda mantém, com muito mais força do que anteriormente, um confronto entre o pecado e o puritanismo sexual, as contradições sociais também se acirram, as disputas nacionais caminham para um endurecimento que parece ser impossível deter. Nos anos 1960 quando em varias áreas das artes alcançam forte apelo político e/ou revolucionam sua própria estética, demonstravam o declínio da arte burguesa. Assim como o socialismo que ainda existia como alternativa de estado para uma sociedade não-moderna, com contradições diferentes da liberal. Nas artes, filmes como do Grupo Dziga Vertov, comandado por Godar e auxiliado por Gorin, além do cinema novo do Glauber Rocha, o delírio fantástico de Fellini (Julieta dos Espíritos é, em minha modesta opinião, o filme mais belo de todos). As artes plásticas partem para experimentações maiores, aparecem artistas que saem do limite da moldura, avançam em obras que usam as mais variadas técnicas, usam mais volumes em suas obras. Saem totalmente dos padrões modernos da forma das obras, criando imagens que geralmente mostram coisas inanimadas, porém estas obras enfocam mais sentimentos visuais que superam a sensibilidade da estética que já havia desde as vanguardas do entre guerras, mas foram além no período do pos-2ª Guerra. Na música o período pós-moderno não superou o conceito de suas formas, apenas se consolidou o rock como o mais importante representante da música popular mundial (ocidental pelo menos). Apenas no nosso período o rock será superado (post-rock). Dessa forma, como se pode dizer que estamos vivendo a pós-modernidade, se o mundo comunista caiu, o cinema revolucionário inexiste, nenhum fato marca a queda do liberalismo em qualquer país, ainda existe a idéia da soberania nacional, da democracia representativa em toda a sociedade ocidental, por tanto o mundo ocidental vive apenas uma continuação da modernidade ainda não podemos anunciar este fim, se todas as contradições modernas existem, obviamente em níveis diferentes do que antigamente. Pensar o fim da modernidade ou sua superação hegemônica, em princípio o fim dos estados-nacionais com democracia representativa, este deveria ser o rumo da dita esquerda política e para os ditos intelectuais marxistas. Enquanto insistirem com reivindicações estáticas contra um oposto que tem um poder de adaptação muito forte, este discurso ficará ainda mais vazio que as ideologias concorrentes. A esse respeito tento sempre lembrar que o maior pensamento original de Marx sobre a concepção do homem foi vê-lo com sua existência ligada à elaboração do novo. É uma ótima crítica ao seu próprio pensamento, as pessoas devem pegar sua obra e pensar algo novo, criticar uma nova face do capitalismo, não apenas seguir fielmente como religiosos as suas concepções de necessidades de mudança da sociedade. É praticamente impensável que o proletariado operário moderno, que está totalmente aburguesado, faça uma revolução como Marx viu em sua época. No século XIX poderíamos ver uma revolução como essa, hoje podemos ver rachaduras na concepção das nações democráticas. Por isso o argumento dos críticos de Marx de que suas previsões deram errados, se desconstroem com esse pensamento se o homem se cria ao novo na concepção marxista do homem, então ele provavelmente estava lutando pela brecha que ele via no capitalismo, a contradição principal do trabalho que é a exploração do trabalho, do enriquecimento sobre o trabalho humano, na expurgação do trabalho transformando-o de essencial pra existência para vital à sobrevivência. Para Marx esta era a contradição que acabaria com o sistema perverso do mundo burguês. Com certeza ele não pensava que se socialismo não vencesse sua batalha, o mundo se tornaria obrigatoriamente comunista. Como muitos críticos do marxismo pregam com grande vivacidade.

segunda-feira, setembro 04, 2006

Racistas, quem?

Esse é um post que talvez apareça dividido em duas partes. Eu disse talvez. Isso porque não li por completo o livro do Ali Kamel (Não Somos Racistas, Nova Fronteira, 2006, 22 reais), apenas li o que visitas rápidas às livrarias e textos online gratuitos me permitiram. Não me sinto motivado a comprar o livro. Se o fizer, serei mais um nas estatísticas que usarão para "provar" o sucesso do dito-cujo (algo como "200 mil edições vendidas, blábláblá"), e não gostaria de contribuir para isso. Principalmente se eu detestar o conteúdo. A forma eu já detesto.
Detesto porque parte de uma retórica fantasiosa. Para mostrar os problemas da política de cotas, Kamel diz que o racismo não é fator estruturante da sociedade brasileira, tal como fora na África do Sul e nos EUA. Só que pra isso utiliza-se de um título ambíguo: Não somos racistas. Ora, não seríamos racistas apenas pela falta de uma legislação condizente com a prática? Afinal, o que diabos é essa coisa que chamam de racismo?
Espancar, torturar, perseguir e matar negros, ou brancos, ou pardos, ou indígenas, ou orientais, enfim, outra "raça" (com 1 milhão de aspas, por favor) é prova de racismo? Sim, é, se a prática for orientada pela cor da pele da vítima. Contudo, isso não engloba todas as atitudes possíveis de um racista.
O racismo é uma prática extremamente subjetiva. Na falta de uma legislação estruturante, como quer Kamel, o racismo se apresenta de formas bem pouco perceptíveis. É o olhar de solaio, é o espanto ao ver o negro em altos cargos, é o uso do termo "crioulo", "pretinho", "negrinho" para destacar a pessoa de que se quer falar. O racismo é sutil: é fechar o vidro do carro quando um negro se aproxima, é tomar um susto quando um negro passa correndo, é aceitar (quando se aceita) não sem resistência um casal formado por negros e brancos.
Um argumento do Kamel é que a política de cotas dividiria a nação em um país bicolor. Eu me pergunto se tal divisão já não é existente. Só pretos sabem sambar, só pretos jogam bola com perfeição, pretos são mais fortes, pretos têm pau maior, pretos gostam de pagode, pretos não são bons nadadores, enfim, uma infinidade de associações entre cor de pele e atividade são ouvidas por este que vos fala quase diariamente, vindo de pessoas de uma diversidade cultural e econõmica impressionante (inclusive dos próprios negros). Por outro lado, os brancos são melhores para a "cultura européia": música clássica, tênis, trabalhos intelectuais etc. Uma cultura européia secularmente (e errôneamente) associada à civilização.
Essa divisão baseada na cor da pele não é prerrogativa do Brasil, lógico. Mas fico espantado em como por aqui parece mais forte a idéia de democracia racial, ainda nos dias de hoje. Como se a miscigenação fosse um argumento sustentável para uma possível relação pacífica entre negros e brancos.
Sou contra cotas "raciais". Acredito que pretos e pardos são a maioria dentre a população pobre do país, portanto acredito que cotas com limite de renda são suficientes para ingressa-los na universidade em peso, sem excluir os brancos que também estão abaixo da linha de pobreza. Uma cota apenas baseada na cor de pele pode levar a dois problemas fundamentais: 1) Beneficiará muito mais os negros de alta renda e não agirá contra a pobreza; 2) Poderá reforçar argumentos dos racistas de plantão, atestando que "os negros só entraram por causa das cotas" e outras bobagens. Além disso, baseado na auto-declaração (ao meu ver o mais justo modo de se averiguar quem é preto, pardo ou branco, num país tão marcado pela mistura), cotas exclusivamente raciais beneficiarão também brancos de alta renda, que sempre poderão dar um jeitinho de encontrar um pé ancestral na África.
Talvez cotas que unam o critécio "racial" ao critério econômico sejam uma boa medida para otimizar a presença dos negros na universidade nos próximos anos. Porém, como as decisões provisórias acabam se perpetuando nesse país, acho arriscada uma prática que surja "para durar pouco". A inclusão social é fundamental, nem esquecer a melhoria dos ensinos de base. As cotas não são de jeito nenhum uma solução, mas são um bom primeiro passo. O risco é parar pra descansar logo depois.